quarta-feira, 18 de setembro de 2013

levaste a tua metade do nosso abraço...

falava-se aqui de amar à distância. falava-se daquele amor arrebatador que a distância pode arrefecer até à extinção. não do nosso amor, porque "o nosso é tão especial" que "vai correr tudo bem.", "se quisermos é possível.".  
e, afinal, houve um tipo qualquer, que não conhecemos de lado nenhum, que escreveu exactamente o que sentimos e arruinou a nossa imunidade à distância... a vida, simplesmente, não é justa...
nós que tínhamos a certeza de que nada nos poderia separar, nós que finalmente descobrimos o amor puro e verdadeiro, nós que fazemos parte do restrito grupo de pessoas que conseguiu encontrar a peça que lhe faltava, nós que temos uma relação tão especial... nós, tu e eu... nós... eu e tu... cada vez mais distantes de nós... a distância é um poderoso veneno que corrói lentamente o nós reduzindo-o novamente a apenas tu e apenas eu.

mas isso não vai acontecer-nos, amor, não a nós! nós somos superiores à distância! e quando essa víbora tentar envenenar-nos (e vai tentar, tenho a certeza!) só teremos de a relembrar de que 'quem nasce pobre já tem de vir forte, quando o doutor dá as boas-vindas um anjo deseja boa sorte'. nascemos em ti, distância, conhecemos-te bem, esperávamos que já nos conhecesses melhor!! aqui, entre nós, és o elo mais fraco!

é possível resistir à distância, não tenho dúvidas disso, mas conheço bem as dificuldades! já as senti na pele e começa agora um novo ciclo de dificuldades. oh, vida madrasta...

mas não é desse tipo de amor que quero falar-vos neste post. ("sério, numbi?? ninguém diria!!" pois, entusiasmei-me... mil perdões, sim?) o amor de que quero falar-vos é o amor que não treme com a distância, o amor que resiste ao desprezo e que sobrevive à traição.

pouco antes de me acenares um "até já, não fiques triste que vai correr tudo bem!" disseste-me qualquer coisa do género "está toda a gente a desejar-me boa sorte, coragem, força que isso vai passar rápido..." e depois lembraste-me de que ir não era fácil, mas também não era dramático. de que ias estar bem. "ainda bem!" era o que eu deveria ter pensado mas, se bem me recordo, o flash que me assolou foi mais do género "eu sei que vais estar bem..." não no sentido de 'been there done that', mas no sentido de 'o desconforto é o melhor caminho p'ra casa', if you know what i mean.

depois, por coincidência (juro que não andei a procurar textos deprimentes na internet! juro!!) li este texto e percebi! percebi e vou responder ao que me disseste.

se não contares com os votos casuais de "boa sorte, boa viagem e coragem que isso vai correr bem", podes interpretar tudo o resto como "vais fazer-me muita falta, vou precisar de muita coragem para continuar sem ti!", "estou com o coração apertadinho por te ver partir... volta depressa!" "nem que sejam só dois anos, são dois anos que não poderemos recuperar..." (esta até tem direitos de autor...).

"vai passar rápido!" é um sinónimo de "volta depressa, por favor volta depressa!"
"boa sorte!" p'ra ti e para mim, que bem vou precisar!
"coragem!" precisa-se!!
"força!", por favor dá-me força para conseguir sobreviver sem ti!

porque quem parte vai à aventura, por necessidade, pela promessa de uma vida melhor ou, por vezes, apenas pela ambição de um salário melhor. quem parte aceita um desafio e quem aceita um desafio está em missão! quem parte vai em missão.

nem sempre as missões são pacíficas, nem sempre as missões são fáceis e nem sempre são encaradas com o espírito de superar desafios. as missões são agrestes, duras, as saudades apertam e sente-se a falta de coisas que nem se dava conta de que existiam. quem parte sabe que vai encontrar dificuldades, sabe que vai estar longe da família e dos amigos, sabe que haverá momentos em que desejará não ter partido. quem parte tem de ser lembrar constantemente do objectivo da sua missão, obriga-se a ter os olhos postos no futuro de modo a manter, no presente, a sua força e o seu equilíbrio. quem parte, num egoísmo involuntário, acaba por desvalorizar os efeitos secundários da sua partida.

muitas vezes escapa, a quem parte, a noção das consequências da sua partida em quem fica. a cadeira vazia à mesa, o quarto abandonado, o vazio no banco do passageiro, a fatia de bolo que sobra, a companhia para um copo ao fim da tarde, o confidente de uma vida, o companheiro de brincadeiras, a simples segurança da presença. o bom dia, o beijo, o abraço, o gesto gentil, o sorriso...
a perna que procuramos e não se encontramos debaixo da mesa, o corpo onde complexamente encaixamos o nosso nas cadeiras do cinema, ou só a mão, a mão onde a nossa deveria estar encaixada...

quem parte preenche um novo espaço deixando um rasto de vazio atrás de si...

quem parte leva consigo a metade do abraço a quem fica.

já fui a pessoa que levou metade do abraço, mas agora alguém a levou para longe de mim... hoje sou quem fica...

3 comentários:

Jolie disse...

De mim também já levaram parte, mas graças a Deus ela já voltou para o seu lugar no meu abraço.
Não posso no entanto deixar de referir que, muito embora o contexto seja diferente do que julgo poder inferir da leitura deste post, lhe desejo melhores resultados. Isto porque aquela parte do meu abraço ainda não se conseguiu ajustar no espaço que aqui deixou e lhe pertence.
Beijinhos e boa sorte.

Jolie disse...

E ainda ...
Gosto muito! Continua a escrever e a alegrar (nem que seja) parte dos meus dias <3

numbi disse...

obrigada, jolie!! :)
espero que esse abraço se ajuste em breve. o meu há-de voltar a completar-se!
beijinho