nome de código: angola

eis o balanço de 11 meses e 16 dias por terras de rainha ginga. 

não posso dizer que tenha gostado de cá estar, não, não gostei, mas posso dizer que foi uma experiência inesquecível. consigo perfeitamente imaginar-me, daqui por alguns anos, a dizer coisas como "uma vez, em angola...." ou "isto não é nada, comparado com o que eu vi em angola...", porque sei que angola me marcou para sempre. 

uma vez que não vim numa missão também não posso dizer que saio daqui com a sensação de dever cumprido, vou-me embora porque alguém decidiu que será melhor eu continuar o meu trabalho em portugal e, posso acrescentar, eu concordo, é muito melhor trabalhar em portugal.

mas, caindo no cliché, todas as experiências têm um lado positivo e até a pior das experiências pode ter um efeito positivo em nós: mostrar-nos o quanto éramos felizes antes de passarmos por ela. a expressão "era feliz e não sabia" foi das primeiras que ouvi quando cá cheguei e aplica-se lindamente à experiência "luanda", porque em luanda é tudo mais complicado. é tudo mais lento. é tudo mais poluído. é tudo mais pobre (alguns só de espírito). é tudo mais caótico. é tudo menos seguro. é tudo menos fiável. é tudo mais caro (excepção para os combustíveis). é tudo mais hostil. em luanda é tudo diferente e quase sempre para pior. 

e escrevi "quase" porque angola não é só luanda e possui algumas características que dão 20 a 0 a portugal. muitos começariam por falar do clima, em angola não faz frio, mas este factor não tem grande efeito em mim. no entanto, tem bastante efeito na personalidade da população. em angola vê-se felicidade estampada no rosto de gente que vive em condições miseráveis. as pessoas são felizes, são espontâneas, são alegres, brincam, riem, dançam, cantam e divertem-se. num país onde a esperança média de vida ronda os 50 anos, as pessoas não pensam muito no amanhã e por isso aproveitam cada dia como se fosse o último. outra característica capaz de deixar qualquer português em tons de verde inveja é a temperatura das águas do mar. aqui, além de não doer nada, tomar banho no mar é mesmo agradável. se me perguntassem eu diria "está no ponto!". 

outras maravilhas que angola oferece a quem por cá passa são as paisagens paradisíacas. this is africa. aqui há natureza em estado selvagem, há árvores gigantes, há quedas de água, há praias com palmeiras, há animais exóticos, há terra vermelha, há frutos exóticos, há navios encalhados na praia, há montanhas, há vales, há "plantações" quase extraterrestres de pedras gigantes. aqui há cenários maravilhosos.

e para terminar este capítulo "as maravilhas de angola" informo os mais distraídos que o território angolano tem petróleo e diamantes. sem mais comentários sobre este assunto.

tendo sido uma experiência de balanço negativo, angola não deixou de me presentear com algumas surpresas boas. a melhor que recebi foi as pessoas que angola me deu a conhecer. ganhei kambas (amigos) incríveis e conheci gente surpreendente. fiz amizades que gostaria de preservar para toda a minha vida.

por outro lado foi também em angola que conheci o desespero de demorar 3H30 a fazer vinte e poucos quilómetros, foi em angola que encontrei os mais variados problemas intestinais e uma diarreia de caixão à cova, foi em angola que soube o que é ter medo de andar na rua e pânico de ter de fazer meia dúzia de metros a pé durante a noite, foi em angola que soube o que é ser a primeira cliente da pastelaria que abre às 7H00 quando ia matabichar (tomar o pequeno almoço) antes de ir para o trabalho, foi em angola que conheci o caos nas estradas, foi em angola que paguei quase 80$ por um jantar com os amigos, foi em angola que senti, pela primeira vez, que o meu corpo não aguentava mais e que a qualquer momento faria shutdown.

a minha experiência em angola, tendo sido pacífica, foi extremamente violenta a nível físico e psicológico.

se gostaria de cá voltar? não, não vou ter saudades!
se voltarei? only time can tell...