no inicio de janeiro desapareceu um colega aqui do trabalho. não o conhecia, apenas lhe reconheci o rosto de o ver passar no corredor. não faço ideia do tipo de pessoa que ele era, apenas sei que era uma pessoa que trabalhava a poucos metros de mim há alguns anos, como tantas outras pessoas a quem apenas conheço o rosto.
desapareceu. desapareceu mas deixou rasto. o carro dele foi encontrado junto a uma ponte, aberto e com todos os documentos no seu interior. era um desfecho bastante previsível, mas a esperança só morreu ontem. no domingo encontraram um corpo na praia, ontem o corpo foi identificado, era o meu colega.
as teorias são muitas - estava com uma depressão, tinha uma doença, discutiu com a namorada, ia ser dispensado do trabalho - mas a conclusão é sempre a mesma: não aguentou viver.
pergunto-me quantos sorrisos esconderão desespero e descrença no valor da vida.
pergunto-me quantos sorrisos esconderão desespero e descrença no valor da vida.
a vida nem sempre é fácil e há alturas em que dá mesmo a sensação de que não vale a pena viver. há alturas, até, em que ficamos com a sensação de que não temos what it takes para fazermos parte deste caos humano que nos rodeia. inadaptados. momentos de desespero em que nos parece que foi um desperdício de uma vida termos nascido. não merecemos viver. mas acabar com a própria vida será a solução mais fácil? racionalmente parece-me uma solução muito, muito difícil.
mesmo sabendo que não teria de viver com o peso de um suicídio na consciência é-me impossível, em vida, imaginar o sofrimento que tal acto causaria aos que ficam. não sou a melhor pessoa do mundo e não tenho moral nenhuma para julgar as decisões de cada um mas o suicídio sempre me pareceu um acto demasiado egoísta. é um pensamento inocente este de que quem comete suicídio tem hipótese de escolha, porque acredito que naquele momento as pessoas só consigam ver um caminho, mas é um caminho com consequências tão devastadoras que, aos meus olhos inocentes, se transforma imediatamente num caminho proibido.
não acredito que as pessoas morrem por vontade própria, acredito que muito já morreu antes de um suicídio. acredito que as pessoas morrem porque não têm escolha. e acredito nisto porque é nisto que quero acreditar.
que nunca o meu sofrimento seja tal que me faça questionar termina-lo à custa do sofrimento das pessoas que me amam.
não acredito que as pessoas morrem por vontade própria, acredito que muito já morreu antes de um suicídio. acredito que as pessoas morrem porque não têm escolha. e acredito nisto porque é nisto que quero acreditar.
que nunca o meu sofrimento seja tal que me faça questionar termina-lo à custa do sofrimento das pessoas que me amam.
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