sexta-feira, 31 de outubro de 2014

causa de morte: indeterminada.

"isto assim não pode ser, é demasiado drama!!"

e ela chorava como se o mundo fosse acabar naquele instante. não queria falar-lhe, eventualmente ele perceberia que ela estava a sofrer e tentaria, certamente, acalmar-lhe a dor. é o que os apaixonados fazem: tudo para ver o outro sorrir. carinhos, promessas, "eu adoro-te"s, um simples abraço, qualquer coisa, ela esperava qualquer coisa, mas apenas recebeu aquilo... "... é demasiado drama!". e acabou por perceber que ele tinha razão: era, de facto, demasiado drama! muito mais drama do que o que aquela relação valia para ele, percebeu ela too little too late... 

e deitava-se a pensar naquilo. era tão estranha a forma superficial com que ele encarava a relação dos dois "mas ele é rapaz e os rapazes são assim... acho eu..."... "sim, claro que são!! são todos assim!!"... "damn, és mesmo dramática, mulher, se calhar o melhor é pedires desculpa..."... "és mesmo gaja, pá!!"... "damn you!!" e pedia desculpa, nunca deveria ter chorado por uma coisita daquelas. era fraca e sabia disso! muito fraca! em nenhuma das situações que a fizeram chorar havia razões para tanto drama, mas ela dramatizava na mesma, a fraca! 

parecia que não tinha auto-controlo, o raio da rapariga! não havia paciência! o que é que ela achava que ia conseguir com aquela atitude? a cada lágrima que lhe escorria pela face ele sentia mais vontade de se afastar. não era daquilo que ele precisava, ele precisava mesmo era de alguém confiante que estivesse ao seu lado e apreciasse a sua forma de encarar a vida. és uma mulher ou és um rato? pelas reacções dela ele temia que lhe começasse a nascer pelugem e uma cauda. houve uma altura em que chegou a pensar que ela era "a tal", como se pensa sempre que se inicia uma relação, chegou a dizer-lhe que daria um bom marido no futuro, imagine-se. mas não, definitivamente ela não era mulher para ele, não com aquelas atitudes! até o sentido de humor, que outrora tinha sido dos bons, estava avariado. sim, ele tinha a certeza -  ela tinha avariado.

ela já não sabia o que fazer. ele não lhe limpava uma lágrima do rosto, nem uma que fosse, e parecia ficar zangado quando ela chorava. era "demasiado drama!" e ela não conseguia livrar-se dele, de tão fraca que era. e o pior é que a cada dia que passava se sentia mais e mais dramática. era medo, descobriu mais tarde, ela era mesmo assim, andava sempre com medo de tudo. medo de ter, medo de não ter, medo de falar e de não falar, medo de pensar e não pensar, as suas próprias reacções eram motivo de medo e por isso raramente reagia ao que quer que fosse. era sempre mais seguro fingir que estava tudo bem. mas as lágrimas ela não conseguia evitar, o que resultava sempre num inexplicável rio a correr-lhe pela cara abaixo. sem explicações, só o rio. era mais seguro assim!

ele não compreendia nada e ela também não se esforçava muito por explicar. acharia ela que ele adivinhava coisas? que por obra do altíssimo conseguiria descobrir tudo o que ela estava a pensar? estaria ela sequer a pensar? nunca se sabe, as raparigas são muito estranhas, se calhar as lágrimas eram só uma reacção física a qualquer substância... ele nunca iria perceber as mulheres. mas que interesse poderia ter numa miúda assim? aquilo não estava a correr nada bem e ele já não sabia como lidar com aquela situação. ele começou a questionar-se sobre se queria lidar com a situação. sobre se valeria a pena lidar com a situação. a balança começou a balançar a favor do "não". mas ela, que ainda há pouco tempo estava no patamar de "a tal", não podia ter mudado assim tanto. ele estava confuso, já não sabia o que fazer. mas uma coisa ele sabia bem: não precisava daquele drama todo na sua vida. ou as coisas mudavam ou...

ela precisava tanto que ele a compreendesse. tanto! mas ele não a compreendia... ele não conseguia lê-la. ela sentia que as coisas estavam a mudar. sentia-o a afastar-se, sentia que ele já não precisava dela e muito menos dos seus dramas. viu-se obrigada a reagir! e o que lhe custou reagir... o medo!! e desta vez ela conhecia bem o preço da sua reacção... as coisas mudaram. ela demorou algum tempo a percebe-lo mas uma vez percebido - percebido para sempre, salvo indicações em contrário. essas indicações não chegaram.

ela mudou. subitamente decidiu que não queria viver assim. assim como? estava magoada, dizia ela. mas magoada com o quê? pareceu-lhe que queria que ele lhe dissesse alguma coisa mas ele não sabia o que dizer. não disse nada.

quinta-feira, 30 de outubro de 2014

coisas que me fazem rir #94

"desisti de ti, não te disse? ah, escapou-me."

disse-lhe. se conseguisse convencê-lo talvez conseguisse convencer-se a si também.

"não abras a porta a estranhos!", gritaram sábios a ouvidos moucos. ela abriu-lhe a porta e deixou-o entrar. por precaução e breves instantes manteve-o perto da porta mas rapidamente se quebraram os entraves e abriu caminho à sua passagem. e ele foi entrando, foi criando o seu espaço e ela aprendeu a tê-lo em si. dentro de si. parte de si.

nunca acreditou ser parte dele. cegava-a a utópica fantasia de que isso pudesse acontecer, talvez, num toque de magia que o desligasse da vida fútil que teimava em perseguir. apenas uma ilusão. nunca acreditou ser parte dele. ele não deixou que acreditasse.

nunca a olhou com olhos de quem precisa. sempre foi o mais elegante par de sapatos da montra, qual boneca de porcelana. lamentavelmente não tinha visto nela mais do que a embalagem. sim, havia mais. havia muito mais!

era imperativo que se libertasse das aparências e estatutos, que anulavam a sua independência, e reconhecesse que é no espírito que se voa livre. menino sedento de constante atenção. atormentavam-no pormenores insignificantes e era incapaz de direccionar a sua atenção para o que realmente importava - ser feliz!

gandhi disse que "não existe um caminho para a felicidade. a felicidade é o caminho." e era importante que alguém lhe transmitisse esta mensagem. ele precisava de saber! mas ela não tinha poderes mágicos de mensageiro.

desistiu. era mentira, e ela sabia-o bem, mas se conseguisse convencê-lo talvez conseguisse convencer-se a si também.

quarta-feira, 29 de outubro de 2014

oh, really?


informação aos leitores: eu também sou fã de marcas de luxo. 

a diferença entres nós as duas? o meu pai não é rico. marido, eu queria dizer marido.

(ai o inferno, numbi,o inferno...)

o ponto de vista

preocupa-me o facto de o meu médico ficar surpreendido sempre que lá apareço de cabelo solto. 

o estaminé onde trabalho tem um posto médico e possui uma base de dados médicos dos colaboradores. com foto. a minha foto foi tirada num bad hair day pelo que estou com o cabelo apanhado.

a primeira vez que o médico teve a reacção "nem a reconhecia, fica muito melhor com o cabelo solto!" achei querido da parte dele. a segunda vez que o médico teve a reacção "nem parece a mesma pessoa da foto assim com o cabelo solto!" ainda lhe reconheci alguma piada. todas as outras vezes serviram apenas para ficar desconfiada de que ele se esquece de mim de umas consultas para as outras e acha, genuinamente, que fico melhor de cabelo solto. 

o caso analisado de uma perspectiva puramente estética até teria o seu quê de positivo, mas analisando a perspectiva clínica da situação acho que tenho um problema! o senhor doutor não sabe quem eu sou nem o que lá vou fazer. "bom dia, fica muito melhor de cabelo solto! em que posso ajudar?" "bom dia, doutor, ontem disse-lhe que sentia uma dor muito forte no tornozelo!" "não sei do que está a falar, não me lembro de nada disso, mas o cabelo fica-lhe muito bem assim!" "mas, doutor, e se for grave?" "grave é andar de cabelo apanhado." "ah, ok.".

pronto, mas isto sou eu que tenho duas costelas hipocondríacas.

sexta-feira, 24 de outubro de 2014

o privilégio é invisível àquele que o tem

quando nos olhamos ao espelho e não nos deparamos com uma pessoa a quem falta uma perna também somos incapazes de interiorizar que o reflexo nos mostra uma pessoa com duas pernas. vemos apenas uma pessoa normal. se o espelho não reflecte pele enrugada vemos uma pessoa normal. se não vemos umas gorduritas aqui e ali e não há grandes ossos à vista também vemos apenas uma pessoa normal. apenas uma pessoa normal. só normal. "sou normal.", dizemos muitas vezes em tom depreciativo. só, apenas, simplesmente normal.

tratamos a normalidade como uma característica inócua, que nos arrefece ligeiramente mais do que nos aquece. a nossa incessante busca por mais e melhor é uma gigantesca lente que filtra as coisas fantásticas que a normalidade nos proporciona e as transforma em coisas banais e sem interesse.

conseguimos ver a riqueza nos ricos e a pobreza nos pobres mas somos cegos perante a nossa condição. a condição que nos permite fazer todas a refeições de forma equilibrada, viver numa casa com boas condições, ter um carro minimamente confortável e seguro que nos leva onde queremos ir (notem que escolhi o verbo querer e não o verbo precisar) e nos permite, até, tirar férias e descobrir o mundo. não, somos apenas normais.

colocamos a normalidade na base das nossas ambições e negligenciamos tudo o que possa ser menos bom do que normal. temos, no entanto, olho clínico sobre tudo o que nos possa parecer um passo acima de normal.

somos cegos. o privilégio é invisível àquele que o tem.

quinta-feira, 23 de outubro de 2014

it's the end of the world as we know it


o mundo, tal como nos foi dado a conhecer , morreu. paz à sua alma.

a marca que nos deu a conhecer as capinhas coloridas e que encolheu os telemóveis poucos segundos antes de perceber que o futuro era grande, morreu. a marca dos telemóveis à prova de queda (not!), dos telemóveis consola de jogos, dos telemóveis com câmara, internet e partes deslizantes morreu. serás para sempre recordada. foste grande, um exemplo e fonte de comparação. consigo imaginar-me cheia de rugas (damn!!) a dizer "eu sou do tempo...". adeus, nokia.




sexta-feira, 10 de outubro de 2014

"i love the smell of napal in the morning"

ou: adoro ter surpresas boas logo pela manhã!


mesmo lendo muito pouco, mesmo dando prioridade à tv (quase) sempre que há possibilidade de escolha, adoro livros! fico entusiasmada quando penso em livros e apetece-me devorar tudo, mesmo não se concretizando. adoro as capas, adoro as críticas, adoro as palavrinhas que lá estão escritas e adorava ler mais. ter sempre vontade de ler mais. podes muito bem ter originado um novo post para a rubrica "hopes and dreams".

adorei!! obrigada!

terça-feira, 7 de outubro de 2014

quizz

pergunta: qual a música dos queen que menciona o nariz de deus?

resposta: i want to break free, god nose i want to break free.

pois é?? o que eu me rio contigo, pá! adoro!!

sexta-feira, 3 de outubro de 2014

back to school - the beginning

há tantos anos que setembro é apenas setembro que já nem me lembrava do conceito de ano lectivo. 

este ano setembro voltou a trazer-me mais do que o fim das férias. este ano, a exemplo dos outros 17 que já passaram há 9, setembro trouxe-me o regresso à aulas. e desta vez o regresso teve outro sabor. agora o estado não me obrigou, não senti a pressão de ir para garantir um futuro melhor do que o dos meus pais e não fui estudar algo apenas porque tem um grande alcance profissional. não. desta vez fui por vontade própria e escolhi o que queria aprender, sem qualquer garantia de que esta formação me venha a ser útil no futuro. fui porque quis ir. quis muito ir!

faz hoje uma semana que tive a minha primeira aula. não sou boa em primeiras aulas, nunca fui. aliás, para ser mais precisa, não sou boa em aulas, nunca fui. para mim, falar para um grupo de conhecidos é complicado, falar para um grupo de desconhecidos chega a ser dramático. dizer, em frente à turma inteira, que sou a numbi, que fiz uma licenciatura em engenharia e que trabalho numa empresa de construção civil é razão mais do que suficiente para me sentir nervosa e desconfortável ao mesmo tempo que a minha face adquire um tom vermelho-arroxeado. e nós já sabemos o que acontece quando fico corada, não é? "e se me perguntam porque escolhi marketing?" (sim, escolhi marketing... não sei...) "eu sabia que não devia ter vindo!" "oh, vida madrasta, e se me perguntam o que espero do curso??" (também não sei a resposta a esta...) "eu sabia que não devia ter vindo!!" "marketing, numbi?? mas tu nem sabes o que é marketing!! o que estás aqui a fazer?" "eu sabia que não devia ter vindo!".

- o meu nome é numbi, sou licenciada em engenharia e trabalho numa empresa de construção.
- ok. próximo.

e foi assim: rápido, simples e pacífico, como habitualmente é. e voltei a lembrar-me do que estava ali a fazer: mudar de vida, aprender coisas novas, conhecer pessoas diferentes, alimentar a mente, renovar o espírito!

dos 33 coleguinhas que me acompanharão nesta aventura posso adiantar-vos o seguinte:

- uma encontra-se na idade dos porquês;
- um acha que é super chique, fashion e hipster;
- uma explica os seus raciocínios como se estivesse a falar para meninos da primária;
- um sabe tantas coisas que nem sabe por onde começar;
- uma quer muito ser chique, fashion e hipster;
- outra está grávida de 5 meses e há-de dar à luz bem a meio do curso(?!?);
- uma outra veste-se de uma forma... diferente;
- ainda há a que veio dos estados unidos;
- e a que foi importada do brasil;

a coisa mais estranha que detectei nesta formação, até à data, foi que nestas disciplinas não há fórmulas!! não há uma solução para um problema!! não há números... estranhíssimo, não acham? será que vou conseguir fazer esta pós-graduação sem recurso a máquina de calcular cheia de programinhas e cenas? e das tabelas técnicas, vou precisar? escalímetro? régua, esquadro, compasso?

estou a fazer uma pós-graduação em modo fringe - existe todo um universo paralelo a abrir-se diante dos meus olhos, prontinho a ser explorado.

para terminar este post, que já vai longo, informo que daqui por, sensivelmente, três horinhas vou ter uma aula de criatividade. sim, leram bem: criatividade. aula. sim, tenho aulas de criatividade! e pensar que tive 5 ou 6 cadeiras de matemática durante a licenciatura...

posts desnecessários #44

este blog é tão fofinho que já começa a irritar-me! já não tenho idade para bolinhas de sabão...

o que eu gosto destas coisas!

o drama de ser-se gaja

- bom dia numbi. hoje estou a ter um daqueles dias mesmo de gaja.
- bom dia. tás com muita vontade de ir às compras ou tás mal disposta?
- mal disposta. hoje tudo me afecta.

quinta-feira, 2 de outubro de 2014

posts desnecessários #43

ontem acordei com a musiquinha do costume, que defini como música de despertar por ser linda e calminha. ninguém gosta de acordar sobressaltado ao som de uma guitarra eléctrica, certo?

enquanto, a muito custo, tirava um braço de debaixo dos lençóis para, amavelmente, solicitar ao telemóvel que voltasse a tocar a mesma musiquinha ao fim de 5 minutos, uma vez que ainda não me sentia capaz de movimentar a totalidade do meu corpo, percebi que não poderia ter escolhido música melhor:


ps: esta já é a minha música de despertar há mais de um mês. mais vale tarde...