quinta-feira, 30 de outubro de 2014

"desisti de ti, não te disse? ah, escapou-me."

disse-lhe. se conseguisse convencê-lo talvez conseguisse convencer-se a si também.

"não abras a porta a estranhos!", gritaram sábios a ouvidos moucos. ela abriu-lhe a porta e deixou-o entrar. por precaução e breves instantes manteve-o perto da porta mas rapidamente se quebraram os entraves e abriu caminho à sua passagem. e ele foi entrando, foi criando o seu espaço e ela aprendeu a tê-lo em si. dentro de si. parte de si.

nunca acreditou ser parte dele. cegava-a a utópica fantasia de que isso pudesse acontecer, talvez, num toque de magia que o desligasse da vida fútil que teimava em perseguir. apenas uma ilusão. nunca acreditou ser parte dele. ele não deixou que acreditasse.

nunca a olhou com olhos de quem precisa. sempre foi o mais elegante par de sapatos da montra, qual boneca de porcelana. lamentavelmente não tinha visto nela mais do que a embalagem. sim, havia mais. havia muito mais!

era imperativo que se libertasse das aparências e estatutos, que anulavam a sua independência, e reconhecesse que é no espírito que se voa livre. menino sedento de constante atenção. atormentavam-no pormenores insignificantes e era incapaz de direccionar a sua atenção para o que realmente importava - ser feliz!

gandhi disse que "não existe um caminho para a felicidade. a felicidade é o caminho." e era importante que alguém lhe transmitisse esta mensagem. ele precisava de saber! mas ela não tinha poderes mágicos de mensageiro.

desistiu. era mentira, e ela sabia-o bem, mas se conseguisse convencê-lo talvez conseguisse convencer-se a si também.

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