terça-feira, 25 de novembro de 2014

não sabemos comportar-nos de outra forma

a lei da vida é uma merda. todos sabemos isso e não há nada que possamos fazer para o contrariar. nada. carpe diem.

"isto é uma roda que não pára. não fica cá ninguém. ninguém!", dizia-me o meu pai no trágico dia em que o seu pai faleceu. na verdade não foi um dia assim tão trágico. não foi um dia mais trágico do que o dia em que o meu avô caiu e ficou agarrado a uma cama para o resto da sua vida. 

por vezes, a fatalidade da morte não é mais trágica do que a decadência da vida.

o ar de consternação da minha tia quando passou por mim na tarde de domingo foi mais do que suficiente para eu perceber a gravidade da situação. estava a acontecer, era o fim. passaram uns minutos e voltou a passar por mim, desta vez acompanhada da minha prima. 

- vais ver o avô?
- vou.
- eu não consigo ir lá.
- eu sei, mas ele pode precisar de mim. - é este o tamanho do coração da nossa grande pequena. 

poucos minutos passaram até que regressasse a chorar. foram os últimos minutos de vida do meu avô, aqueles de aflição.

seguiram-se as cerimónias fúnebres e todo o sofrimento que elas implicam. o rodopio de pessoas que querem deixar condolências, que tinham no meu avô um amigo, que querem mostrar que se importam e se preocupam. e, por muito que isso nos toque a alma, é violento. até os ramos de flores com os respectivos cartões de condolências são violentos. e eram tantos!

"os próximos somos nós." disse o meu tio num desabafo. e os próximos somos nós. as lágrimas nos olhos dos homens que sempre conhecemos com uma força quase invencível atiram-nos por terra. quebram-nos o coração.

e felizes os que têm a sorte de manter a ordem natural das coisas, porque se é difícil perder um pai ou um avô não imagino o desespero de se perder um filho ou um neto.

"mantenham-se sempre assim unidos!" disse alguém no meio da multidão, a roda viva de emoções não me permitiu assimilar a origem da frase mas deixo aqui a minha resposta sincera "assim faremos, como sempre fizemos!! não sabemos comportar-nos de outra forma.". 

e quanto é que eu gosto desta minha família? quão abençoada me sinto sempre que penso nela? é um muito enorme!! espero que o meu avô tenha partido com este conforto no coração: criei uma família maravilhosa e tive a oportunidade de a acompanhar até ao fim dos meus dias.

descanse em paz.

1 comentário:

Jolie disse...

É muito bom ter uma família unida, com a qual se pode contar nos bons e nos maus momentos, e por isso te sentes abençoada. Quanto à partida do teu avô, com 89 anos ... felizes os que têm a sorte de manter a ordem natural das coisas, porque ele estará em paz onde estiver. Bjs.