em portugal festejamos os santos populares, são pedro, são joão, santo antónio, são martinho, etc. por cá festeja-se a "santa democracia" ou, pelo que me pareceu pelos preparativos da festa, festeja-se o são zé du (como se pode verificar na foto abaixo). os senhores da televisão não se cansavam de dizer "é a festa da democracia", quando meio mundo sabe mais ou desconfia, porque a outra metade não sabe onde fica angola.
faz hoje uma semana que decorreram as eleições presidenciais em angola. ouvi gente, com mais de 50 anos e com aquele ar altivo de quem sabe perfeitamente o que é a vida, dizer "já é a terceira vez que eu vou votar!" as in: "não pensem que ando neste mundo por ver andar os outros, de eleições percebo eu bem.". resolvi não mencionar que tenho 30 anos e que já perdi a conta às vezes que fui votar, até porque isso não significa que percebo mais de eleições do que qualquer outra pessoa, que nunca tenho ido às urnas na vida. check!
andei um bocadinho nervosa a semana toda, por causa das prometidas manifestações da oposição que decorreriam em simultâneo com manifestações das forças armadas e que, embora se dissessem pacíficas, me deixavam sempre com um pé atrás. mas, na realidade, não tive qualquer problema com as manifestações à excepção de quinta-feira, quando regressava a casa a meio da tarde por nos terem dito "vocês hoje deviam ir cedo para casa. hoje não é aconselhável os brancos andarem na rua de noite..." sim, nós, os brancos. além do trânsito caótico do costume houve ali uma determinada altura em que vejo uma carrinha de caixa aberta cheia de gajos com cara de poucos amigos e armados até aos dentes (pir - polícia de intervenção rápida, talvez, não sei e nunca pararei para perguntar, prometo!) a parar e descarregar a carga (os gajos, portanto). no meio da rua encontrava-se um polícia sinaleiro a mandar os automobilistas avançarem ou pararem, conforme lhe apetecia. enquanto os tipos saíam da barrinha o senhor agente resolveu parar a nossa fila de trânsito! foi o pânico, apercebi-me de que havia uma manifestação ali ao lado e temi que a coisa fosse descambar. comecei a fazer contas à vida, a perguntar-me por onde passaria a ambulância, para me transportar para o hospital, quando eu fosse atingida por uma bala perdida, quem ficaria com o meu carro, por onde poderia fugir quando começassem a atirar granadas, entre outros pensamentos mais violentos. foi uma viagem do pior que se pode ter: manifestações, polícia, filas e mais filas, gente bêbada no meio da estrada, gente aos gritos, a embraiagem do carro que não colaborava (isso ou era a condutora que, com os nervos, já nem sabia muito bem o que fazer aos pés), basicamente foi uma viagem estilo "salve-se quem puder, que eles andem aí!", é possível que tenha sido o momento mais stressante da minha curta estadia por angola (para não lhe chamar "vida").
os mais rodados diziam que não, que não se ia passar nada, e andavam a gozar com as "gasolina" (nós, acabadinhas de chegar) por causa da "guerra". "então, a guerra já chegou aí?", "estão escondidas nas trincheiras?", "já pediste contraplacado marítimo para tapar as janelas?", "fizeram aprovisionamentos para a guerra?" e, como seria de esperar (por qualquer pessoa que não se visse no meio deste caos urbano (+/- urbano, vá... (tem zonas...))), a experiência trouxe a razão e não houve, até à data, nenhum incidente a registar.
vai-se a ver e até nos deram a sexta-feira de folga, esteve bom tempo para passar algumas horas de papo para o ar, na piscina, mais umas quantas a vegetar em frente à televisão e as restantes a comer ou a dormir. tudo está bem quando acaba bem e eu espero que este episódio esteja encerrado.
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