O dia que se segue a uma cesariana é horrível!
Provavelmente reduzem as doses de morfina e a coisa começa a doer. Muito!
E depois existe uma coisa a que chamam "primeiro levante" que é (txanaaaam) a primeira vez que a pessoa de levanta da cama depois da operação. O primeiro levante é sempre feito com assistência porque pode provocar tonturas e existe o risco de queda. Mas digo-vos, com sinceridade, que ter tonturas foi o menor dos meus problemas! Aquela m£r#@ dói muito! (Acredito que a mesma experiência num hospital privado teria sido realizada com menos "vamos lá que, ainda neste turno, tenho de fazer mais 13 levantes.", mas a verdade é que deve doer muito na mesma! Muito! Sempre!) Dói muito o primeiro levante, dói muito o segundo levante, o terceiro, o quarto e todos durante uns bons tempos! Mas pronto, com mais ou menos dores, lá fui obrigada a retomar as tarefas básicas de vida: comer, beber, ir à casa de banho, deitar-me, levantar-me e tomar banho (nem vou escrever sobre o banho nos primeiros tempos porque é só triste).
E, sem que uma pessoa perceba bem o que se passou, o período reservado ao amor incondicional e à recuperação da mãe transforma-se num período de ansiedade e correria para estar com o bebé e garantir que está tudo bem.
As enfermeiras diziam que quando um bebé nasce e vai para a neo (serviço de neonatologia) nunca mais vêem a mãe. Com mais ou menos dificuldade, de uma forma ou de outra, as mães arranjam sempre forma de estar com os seus bebés na neo! Meu dito, meu feito. Depois do meu primeiro levante pedi para ir ver o meu bebé à neo - eram as auxiliares que nos levavam de cadeira de rodas dada a distância, a condição física da mãe e a segurança no hospital - e dei início ao meu êxodo da enfermaria.
A primeira vez que vi o meu bebé dentro de uma caixinha transparente, sozinho, minúsculo e indefeso, chorei aí uns 15 minutos seguidos, sem sequer tentar parar - era o que a minha alma (e as hormonas, vá) me dizia para fazer naquele momento. Sentei-me ao lado dele, também eu a sentir-me sozinha, minúscula e indefesa, e chorei até sentir o peito mais leve. Chorei até se desvanecer o motivo daquele pranto. Até deixar de fazer sentido. E assim, em viagens de cadeira de rodas de cá p'ra lá e de lá p'ra cá, se passaram 3 dias, até ter alta hospitalar.
Foi pela hora de almoço que saí do hospital. Precisava de uma refeição decente, de um banho quentinho e do conforto do lar, mas o meu filho tinha ficado no hospital! Como é que uma pessoa vai para casa, depois de ter um filho, e o deixa ficar no hospital? Sozinho, dentro de uma caixinha, no meio de tanta gente... Nem a certeza de que está a ter os melhores cuidados que poderia ter diminui o aperto no peito que se sente quando se vai para casa e se deixa um filho no hospital.
Almoçamos no shopping, fomos a casa tomar um banho e voltamos para o hospital. Depois saímos para jantar e regressamos ao hospital. Acho que não exagero muito se disser que fiz uns 2 quilómetros a pé no dia em que tive alta do hospital - porque a neo do hospital de São João fica muuuuito longe da entrada do hospital e a entrada do hospital fica muuuuito longe do estacionamento. Andava muito, muito devagar e, porque ainda tinha muitas dores, não conseguia endireitar as costas. Literalmente, andei até não poder mais! Houve ali uma altura em que me senti a desistir (quando agora penso nisso lembro-me sempre do coelhinho do anúncio da duracell a ficar sem pilha, porque foi exatamente isso que senti), senti que não conseguia dar nem mais um passo. Mas consegui! Dei muitos mais passos! Consegui chegar à neo nesse dia, e consegui repetir tudo, três vezes, no dia seguinte!
O dia que se seguiu, o meu terceiro depois da alta médica, começou com um telefonema:
- Estou...?
- Estou a ligar do Hospital de São João, mas não se preocupe, está tudo bem com o seu bebé!
Não sei se comecei a chorar imediatamente ou se demorei a começar, mas chorei praticamente o dia todo!