sexta-feira, 20 de setembro de 2019

Coisas (mesmo muito pouco) normais, normalinhas #4

Entrei nesta empresa para reforçar um departamento onde trabalhava apenas uma pessoa. "Ah, e tal, porque há muito trabalho no departamento e é preciso alguém para ajudar." Com certeza, a minha especialidade é ajudar!

No meu primeiro dia de trabalho esperava uma espécie de welcome party, é com muita agrado que a recebemos entre nós - tipo seita religiosa - mas não foi isso que recebi. Nem um computador preparado p'ra mim, nem uma conta de e-mail personalizado, nem material de escritório, nem um rato a funcionar, nem uma visita guiada às instalações, nem um código para poder usar as impressoras, nem sequer 5 minutos de introdução ao trabalho. Recebi, sim, uma ronda de apresentação aos vários poleiros - porque esta gente gosta de se sentir importante - convém "massajar-lhes o ego".

Hahaha, muito engraçado "massajar-lhes o ego", ainda bem que este tipo tem sentido de humor. Mais uma empresa igual às outras. - pensei. Só que não, afinal não.

Aqui, trabalha-se 9 horas por dia que, mais coisa menos coisa, foi o tempo em que ouvi o meu novo colega de trabalho a dizer mal de tudo e todos, logo no primeiro dia - e em todos os que se seguiram. Todos! Que me recorde, escapam 2 pessoas à sessão de mal dizer. Quando digo mal dizer não me refiro a "é chatinho", "pouco sociável", cheira mal", "come com a boca aberta", refiro-me a todo um outro nível de insulto, que atingiu o nível "deficiente mental", passando por todos os níveis intermédios - não se preocupem, tenho anotado tudo para vos mostrar (de nada).

Acha que, tecnicamente, não há pai para ele, aqui na empresa, o que poderá ser verdade ou não, mas o que é certo é que não compreende como é que não o valorizam mais, dado que quase todas as outras pessoas que trabalham aqui são "ignorantes" e estão a aproveitar o "oásis" financeiro que encontraram nesta empresa.

Fez questão de me dizer, algumas vezes, que foi ele que me escolheu para o lugar. Eles queriam contratar outra pessoa mas ele viu logo que eu tinha potencial (a história da minha vida) porque uma pessoa que acaba o curso de engenharia civil, na FEUP, em 5 anos, tem de ter grandes capacidades, porque ele também passou por lá e sabe bem do que está a falar.

Reconheço-lhe uma grande capacidade de trabalho, uma dedicação difícil de igualar e uma atitude pouco comum numa pessoa sã, o que me faz acreditar que está doente. Vive com uma revolta que o impede de analisar as coisas com clareza e sensatez. Explode com um bom dia ou com a falta dele. Não controla as emoções, está a um suspiro de mandar tudo ao ar. Só vê defeitos em tudo e em todos e (era aqui que eu queria chegar) às vezes confunde as coisas e atira para o ar insultos que abrangem toda a população. Falo de quê?

Diz que esta empresa é um antro de cusquice. Mas não são só as mulheres (começa aqui) há aqui muitos homens que deviam usar mini saia e fazer a depilação (Viram? Entendem o que quero dizer com "toda a população"?) Já me disse isto dezenas de vezes e acha mesmo um piadão a este comentário. Um dia chegou a dizer-me: não me leves a mal, eu sei que és uma mulher... E tal... E eu, como sou uma moça do bem, sorrio, assobio para o lado e fico a pensar no quadrado em que o senhor vive. Apertadinho.

Normal? Com certeza. Como quase tudo, por aqui.

Sem comentários: