quarta-feira, 13 de novembro de 2013

enquanto há vida...

depois do acidente aquela família não voltou a sentir paz. aquela paz interior de quem sente que só a morte não tem solução, porque naquela família não havia morte nem solução. ali reinava a tristeza, a incerteza, a desilusão, o desolamento, o inconformismo e um profundo sentimento de injustiça. nestas alturas é inevitável fazer comparações, tanta gente má no mundo, tanta gente que não merece viver... é impossível, no nosso egoísmo, não pensarmos "mas o que é que eu fiz de tão errado para merecer isto?"

foi um processo demasiado longo, demasiado doloroso, demasiado cruel!

a minha tia faleceu. e, porque a morte não tem solução, acabou-se a angústia. antes dela já a esperança tinha morrido há muito. a pouco e pouco foi dando lugar ao desolamento e quando nos apercebemos ela já tinha desaparecido.

nunca saberemos o que ela sentiu durante o ano e meio que decorreu entre o acidente a sua morte. ninguém sabe se ela viu, ouviu ou sentiu alguma coisa... os médico faziam questão de não falar sobre o estado dela à sua frente, mas nunca souberam ao certo se ela realmente conseguia ouvir. e, se conseguia, será que era capaz de processar a informação? será que ela sentiu o desespero daquele marido que durante um ano e meio percorreu dezenas de quilómetros, diariamente, para a ver? será que sentiu a tristeza dos três filhos que deixou tão precocemente? será que se culpou por alguma coisa? será que sofreu outras dores para além das físicas?

eu sei, porque vi, que aquela família sofreu como nenhuma família deveria sofrer!

estas coisas não devem ser ditas em voz alta, mas sei que escrevo o que todos pensaram: foi melhor assim e já veio com um ano e meio de atraso! um ano e meio de sofrimento recalcado!!

desejo, com todo o meu coração, que ela esteja lá em cima a tomar conta da família, como sempre fez em vida! e de uma coisa tenho a certeza: se houver céu ela está lá!!

descanse em paz!!

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