quarta-feira, 25 de janeiro de 2012

life changing

7 de janeiro foi um desses dias. um dia que mudou a vida a tanta gente... tantas vidas...

a notícia atingiu-me assim: "a tua tia está quase morta...", e veio acompanhada pelos olhos húmidos do meu pai que estaria provavelmente a pensar como dar a notícia à minha mãe. "ela foi atropelada e parece que não se safa...".
chorei. não tenho bem a certeza da razão. eu gosto muito dela, mas nunca fomos muito chegadas. talvez tenha sido o choque, talvez tenha sido a impotência perante tais fatalidades ou talvez tenha sido isto: como iria a minha mãe receber esta notícia? como iria a minha avó receber esta notícia?
falo-vos da irmã mais nova da minha mãe. nem sempre teve uma vida fácil mas soube sempre encara-la com um sorriso e boa disposição. não escrevo isto porque ela foi atropelada, escrevo-o porque é um facto: ela é de facto uma pessoa das boas! é casada e tem três filhos, dois rapazes e uma rapariga. é doméstica e trabalha no campo quando tem tempo. pouco mais sei sobre a minha tia, excepto que é uma mãe e esposa dedicada e que é, tal como a minha mãe, uma pessoa simples e livre de maldade.
escrevo "é" porque ela resistiu ao que parecia inevitável. "pois, às vezes parece mais grave do que realmente é..." partiu uma perna, a bacia e um pulso e fracturou qualquer coisa no pescoço, mas estes foram os menores dos seus problemas. ela sofreu um traumatismo crânio-encefálico grave. eu explico: ela fracturou gravemente o crânio e feriu o cérebro. eu explico melhor: não lhe operaram a perna porque "poderia não valer a pena...". não, eu consigo melhor: pediram autorização ao meu tio, marido dela, para fazerem um estudo a nível europeu sobre ela, porque "foi um dos casos mais graves que lá apareceu.". pronto, acho que assim fica claro o estado dela. está em coma, parece que já não corre perigo de vida, mas está em coma, simplesmente não se sabe o que o futuro lhe reserva. se tivesse de adivinhar diria que não será um futuro risonho.
agora o meu tio já pode começar a pensar em conduzir até ao hospital, o meu primo pode começar a pensar em entrar no quarto do hospital para ver a mãe e a minha avó pode agora sonhar em ouvir a sua filha mais nova outra vez, porque "a" má notícia tem cada vez menos probabilidade de acontecer. mas eu pergunto-me: "você tem escadas em casa?" não conta como uma notícia péssima? mesmo quando é seguida de "porque ela pode não conseguir andar uma vez que lhe morreu uma parte do cérebro, o que poderá afectar-lhe o equilíbrio." não se sabe se vai conseguir falar. será que vai reconhecer as pessoas? será que vai ter de começar tudo de novo?
ah, de volta ao início.
a minha tia foi atropelada e o que se sabe, até à data, é que sofreu danos físicos graves.
a minha tia foi atropelada e o meu tio sofreu danos psicológicos graves.
a minha tia foi atropelada e os meus primos sofreram danos psicológicos graves.
a minha tia foi atropelada e a minha avó sofreu danos psicológicos graves.
a minha tia foi atropelada e os outros "apenas" se sentem como se também tivessem sido.
"parece que fui atropelada." ganhou um significado completamente novo, não foi?

um rapaz atropelou uma pessoa. o rapaz sofreu danos psicológicos graves. não consegue dormir. o meu palpite: está traumatizado. os seus pecados: excesso de velocidade e distracção, no sítio errado à hora errada.
eu também já cometi esses pecados... dá o que pensar, não dá?

2 comentários:

Jolie disse...

Dá sim, dá que pensar.
Abraço para ti (-.-)

D.A. disse...

Fonix.. as melhoras pra tua tia!!
Eu sei.. sei!! Tenho d pensar nos outros, né?! "shame on me! I know.." :(
É muito mau.. mas para combater isso eu já "tento" andar mais devagar e faço menos viagens!
As melhoras...