quinta-feira, 9 de fevereiro de 2012

unidade de neurocríticos

fui ver a minha tia ao hospital.  

não ia a contar com nada porque me tenho mantido actualizada em relação ao seu estado de saúde, pelo que me sentia perfeitamente calma em relação à situação.

na unidade de neurocríticos do hospital de s. joão não há quartos, há cerca de 10 camas distribuídas num espaço amplo. trata-se de uma sala de tratamento para os pacientes e de consciencialização para os visitantes. de um momento para o outro percebemos que andamos uma vida inteira a dar importância às coisas erradas. que não importa que a nossa vida não esteja a correr exactamente como prevíamos, que não importa o facto de detestarmos o nosso trabalho, que não importa que a nossa vida pessoal se compare à de uma doninha fedorenta, que nada importa quando comparado com aquilo. é um momento "afinal sou religioso" - obrigado meu Deus pela protecção, por favor contínua o bom trabalho e, já agora, protege também a minha família e os meus amigos para que nunca tenham de passar por isto.

ela parecia estar apenas a dormir, serena. já não estava sedada, reagia ao toque. tinha o cabelo curtinho e duas costuras enormes na cabeça. não tinham mau aspecto, pareciam cicatrizes antigas. tinha um braço engessado, uma perna ligada e na outra uma maquina qualquer que facilitava a circulação. tinha um colarinho e um número infindável de tubos e tubinhos ligados a todas as partes do corpo. 
os médicos aconselham os familiares e amigos a falarem com as pessoas em coma. não sei se está provado que eles ouvem, mas mal não faz com certeza. quando lá chegamos o meu tio disse-lhe: "olá. hoje está cá a tua sobrinha, a numbi." e eu juro que ela expressou um sorriso, coincidência ou não, juro que sim! 
por não estar sedada, de vez em quando o corpo dela começava a tremer e um toque ou uma palavra acalmavam-na. eu arriscaria dizer que eles ouvem!
fiquei a saber algumas coisas que não sabia sobre ela, uma delas é que não gosta que lhe mexam no nariz. o meu tio aproveita-se dessa informação para lhe arrancar reacções.

ela está mal, mas parece estar bem. agora temos que aguardar que saia do coma para ficarmos a saber exactamente onde estamos... esta espera pode durar dias, semanas, meses, anos... não sei qual é o limite... 

somos tão, tão pequeninos...

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