perguntou-lhe ela, logo após ele ter respondido afirmativamente à pergunta "posso fazer-te uma pergunta difícil?". ele ainda não tinha noção de qual seria o conceito dela de pergunta difícil, mas arriscou um sim e viu-se obrigado a responder.
"não estava à espera dessa pergunta... não por ser uma pergunta para a qual não tenho resposta... quer dizer... se calhar tenho..." ela achou que ele estava confuso, mas não se manifestou. queria saber se ele ia brincar com a pergunta ou se teria algo interessante para lhe dizer. "o problema dessa pergunta é o seguinte:" continuou ele "(é provável que vá divagar um pouco nas próximas frases, mas tem paciência... prometo concluir como deve ser) eu sei o que estamos a fazer... mas não sei se tu sabes o que estamos a fazer... pior do que isso é pensar que o que eu sei que estamos a fazer, pode não corresponder ao que tu sabes que estamos a fazer..." aí ela ficou sem dúvidas, ele ia dizer qualquer coisa interessante e estava, claramente, confuso. "tu disseste, numa das nossas primeiras conversas, que claramente víamos muitos filmes os dois..." de si para si, ela confirmou, era flagrante a influência do cinema no discurso dele. e só uma pessoa que padece do mesmo mal, como ela, é capaz de o detectar e compreender. "e apesar de isso ser verdade, na altura pensei que até te estavas a divertir e que mais tarde ou mais cedo não íamos ter assunto, ou ia dizer qualquer coisa que não gostasses... (eu sei, já disse montes delas... tens sido paciente, não sei bem porque me aturas ainda...) mas entretanto continuamos a falar todos os dias e quando dei por ela..." por momentos ela ficou assustada, achou que a pergunta não tinha sido difícil ao ponto de ele lhe dizer que estava perdidamente apaixonado por ela e, talvez por isso mesmo, ele simplesmente não tenha dito "... estava a preencher os intervalos do meu dia com as nossas conversas..." ela suspirou de alívio. mas foi um alívio estranho que apenas lhe acalmou a razão. lá no fundo, no fundo, ela adorava a sensação assustadora de uma revelação mais profunda. "... e depois comecei a preencher os momentos fora dos intervalos do meu dia com "será que ela já respondeu?!... até que comecei a acordar com um primeiro pensamento "será que ela já chegou ao trabalho e já me disse bom dia?!"..." quando ele chegou a esta parte já ela estava com aquela carinha de parva, de quem já não consegue conter o sorriso, havia muito tempo "... conclusão... não faço ideia daquilo que estamos aqui a fazer..." é possível que ela tenha revirado os olhos nesta altura, mas ela nega-lo-á sempre e para sempre. então o rapaz tinha começado tão bem e agora... isto? mas, para surpresa dela, a procissão ainda ia no adro. "... não faço ideia daquilo que estamos aqui a fazer e sei que é mais fácil dizer e acreditar que vemos muitos filmes..." ela acalmou, ainda havia esperança. "... mas imagina que agora não falávamos mais..." ela estava mesmo a começar a imaginar quando ele a distraiu com novos cenários negros "... imagina que eu não disparava as boas noites... que não dizíamos barbaridades um ao outro... que não tínhamos monólogos pergunta/resposta enquanto o outro está a trabalhar..." ela não sabia o que pensar do desenrolar da conversa. onde quereria ele chegar? "... imagina que não falávamos, de repente..." chegou a pensar que talvez não tivesse sido muito boa ideia fazer-lhe aquela pergunta, mas ele depressa lhe mostrou o contrário "... aí sim... era caso para perguntares... "o que é isto que estamos a fazer?"" e rematou "(done)".
3 comentários:
Um texto muito bem escrito, como sempre, mas tive uma dificuldade imensa para conseguir apanhar o fio à meada. Concluí mesmo que tenho que te perguntar: Numbi, foste tu mesmo que escreveste isto ... ou isto não é uma redacção mas sim uma cópia? :/
a pergunta e a resposta são cópia de uma conversa entre eles, o restante texto é meu!
giro giro, era saber a resposta dela, a uma pergunta dele, tipo esta:
"o que é isto que estamos a fazer?"
:)
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