"Numbi é uma pobre rapariga do interior desquecido e ostracizado. Ela vive numa localidade com um coeficiente de desenvolvimento semelhante às aldeias Nepalesas dos Himalaias. Aliás, para chegar a Numbiland (é assim que a aldeia se chama), é preciso fazer um grande percurso em cima de Burro, e isso já é muito bom, porque após a ponte de Entre-os-Rios ter caído além do Burro tinha-se que andar de tartaruga, camelo, elefante e rinoceronte até se chegar à tão afamada (para os seus habitantes) povoação. É uma aldeia muito pacata e tranquila em que o chilrear dos pássaros se confunde com as panelas partidas das motos Casal, em que por baixo de uma indicação a dizer barragem tem um sinal de proibido estacionar, e em que a capela lá do cimo do monte fica toda iluminada quando há festa (Toda? Não! Eles não deixam as luzes até abaixo senão ainda aparece alguém dos arredores a desatarracha-las). Festas que são muito perigosas, aliás um dos seus (muitos) traumas de infância é a vaca de fogo, da qual Numbi foge como o diabo foge da cruz. E já que estamos a falar de religião, Numbi é uma verdadeira menina de coro, até já gravou discos e tudo! E mais que isso, reconhece a sua voz no meio de 24 vozes (número de pessoas que constituem o coro e ao mesmo tempo a população total de Numbiland). Numb, acredite-se ou não, pode ter futuro, não como cantora, mas como... auto-rádio. Sim, repare-se: Para além da música, uma das suas grandes paixões são os automóveis, até sonhou ser um dia atropelada por um Mercedes no Algarve, depois, isto de se mexer muito não é muito com ela, nada melhor que ficar sentadinha no carro, a qualidade sonora não é má e apanha diversas estações, desde a RFM até à Rádio Renascença (na parte da missa das 7), o único incómodo é ocupar muito espaço (Um lugar inteirinho), mas não se pode ter tudo... Além disso é difícil roubar, tem um sistema que identifica visualmente o ladrão, regista-o no seu neurónio e depois conta tudo à polícia.
Acrescente-se também que Numbi é agora uma recém-chegada à urbanidade, já não vem todos os dias às 6 da manhã do fim do mundo, quando ainda é noite e uma pessoa até já não tem pena dela por causa disso. Claro que continuamos a ter pena por causa das outras coisas, mas de se levantar às 6 da manhã não. Agora até já comeu a sua primeira francesinha, já sabe onde é Costa Cabral, consegue ir à Constituição sozinha e até já respirou a Catedral das Antas.
As suas frases são inumeráveis, existem mais frases inventadas por si do que freguesias em Numbimainland. Foi ela que descobriu que o Bolhão era uma feira gigaunte (algo que nunca me tinha apercebido. Juro!), e o seu vocabulário inclui: É o Fuim. Graunde, Éu, Que Luindo! Méu, como os outros, éu sou o coelhinho da páscoa (também com as orelhas dela), inteirinhos, etc. etc. Foi por causa dela que saiu o novo dicionário da Academia das Ciências, eram expressões que ninguém conhecia na nossa língua. E por mais incrível que pareça, Bi não é auto-rádio, linguista mas sim uma futura enga maçarica, porque se não fosse o seu irmão a escolher o curso “ia trabalhar para a pedreira como os outros”, triste seria a vida no meio urbana se esta lufada de ar fresco ficasse perdida numa freguesia tão distante... Uma lufada de ar fresco que as vezes anda aos ziguezagues, isto quando se chateia e usa a sua frase mortal: “Não me acredito que disseste uma coisa dessas”, mas o que vale é que são momentos muito raros, porque na maioria das vezes ela dá-se bem com toda a gente e consegue fingir que é muito inteligente e que por trás daquela futilidade que tenta cobrir os seus cabelos como um acto de defesa (cabelos muito muito grandes) até está muito mais do que o que o neurónio que tenta transmitir, e se alguma alma caridosa acha que ela podia aproveitar muito mais as suas capacidades, ela responde: “Isso de pensar muito enche muito a cabeça, percebes? Fica aqui tudo muito confuso.” E o pior de tudo é que a simplicidade é uma qualidade muito maior que a inteligência e ela acaba por ter toda a razão e não se pode dizer mais nada."
NOTA: por razões de segurança o nome e as localidades foram alterados! :)
5 comentários:
e eu a pensar ... que coisas lindas que esta rapariga sabe escrever! afinal ... dah! (para mim) só no final é que vi o título da história :(
Não seria capaz de dizer mais, nem melhor! Muito bem!
Nota: apesar de citadina, também por ser trauma de infância tenho um "medo que me pelo" da vaca de fogo!
pois, coisas lindas não é cá comigo!! ;)
a vaca de fogo é perigosíssima!! :o
Mas não fiques triste!!!!! continua que escreves muito bem :)
ah, claro que vou continuar!! bem ou mal o importante é "deitar cá p'ra fora"!! :D
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